sábado, 16 de dezembro de 2023

QUANDO DEIXEI DE ACREDITAR EM PAPAI NOEL

 

 ElsonMAraújo

Neste dezembro de 2023, mais precisamente no próximo dia 25, completarão-se 49 anos desde que deixei de acreditar em Papai Noel. A ruptura com essa lúdica crença num personagem lendário da cultura cristã ocidental foi traumática. Numa só noite/madrugada fui acometido de sentimentos incompreensíveis para um menino, ainda na primeira infância. Devo ter chorado por pelo menos um dia. Tinha seis anos de idade, vivi um verdadeiro luto.

Hoje identifico que até a ficha cair e descobrir que Papai Noel era uma ficção, sofri com o sentimento de culpa. Afinal, o que teria eu feito de ruim para que naquele Natal, o “bom velhinho” não deixasse meu presente no “pé da minha rede”?

Justo naquela noite tinha armado um plano para flagrar a chegada do Papai Noel. No ano anterior, me esforcei, mas não o vi chegando com um carrinho de plástico vermelho, que durou até o meio do ano. Gostava de carrinhos e naquele Natal, de 49 anos atrás, torcia para ganhar uma C 10. Uma C 10 verde, igual à que um primo tinha sido contemplado, dois anos antes.

O plano para flagrar o Papai Noel era fingir que estava dormindo. Uma luta inglória, pois o sono era grande demais. Mesmo assim, com aquele plano na cabeça, no menor dos barulhos eu acordava e dizia para mim mesmo: “É ele!” O barulho sumia. Olhava para debaixo da rede, não via o carrinho que pedi e voltava a dormir. E assim, foi até amanhecer o dia. Não teve presente nenhum.

Para garantir o presente do Papai Noel, a orientação dos irmãos mais velhos, pais e professores, era pra gente ser sempre obediente, estudioso, respeitar os mais velhos, e ir à missa das crianças todos os domingos. Havia feito tudo isso, o ano inteiro, mas, mesmo assim, não ganhei meu carrinho.

Por mais que vasculhasse a memória não encontrava nenhum delito que motivasse aquele castigo. Teria sido porque tentei vê-lo? Nada justificava. Tinha certeza que tinha sido um bom garoto.

Do sentimento de culpa nasceram a frustração e o ódio. Nunca perdoaria o Papai Noel por aquela covardia. Prometi que iria odiá-lo para sempre.

Como não parava de chorar, minha família preocupada, designou minha irmã normalista Margarete  para a missão de me explicar o que ocorrera de verdade. Já era grandinho e estava na hora de saber que Papai Noel não existe.

Sempre muito habilidosa, minha irmã foi por longe. Me pôs nas pernas, enxugou minhas lágrimas, disse que eu era bom menino e que Papai Noel não viera naquela Natal não por alguma peraltice que eu tivesse feito, e sim porque, simplesmente, não existia.

-Mas ano passado ele veio, deixou até meu carrinho vermelho. É mentira, ele existe sim.

-Não, meu querido irmão. Não existe! Quem sempre deixou o presente de Natal debaixo da tua rede foi o papai. Este ano ele não teve dinheiro para comprar presente para todo mundo e para beneficiar um e outro não, preferiu não presentear nenhum dos filhos.

A notícia foi devastadora. Eu não conseguia acreditar que aquele mundo mágico que eu havia construído na minha cabeça não passava de uma fantasia. O Papai Noel não existia? Como isso era possível?

Senti-me traído, enganado.

O choro foi embora, mas durante dias, fiquei pensativo, tentando entender aquela nova verdade. Não queria conversa com mais ninguém. Aos poucos, fui me acostumando com a ideia de que o Papai Noel não existia

O lado positivo da experiência do Natal dos meus seis anos de idade, foi um importante passo no meu processo de amadurecimento. Foi a primeira vez que fui confrontado com a realidade, com o mundo como ele realmente é. Para completar, naquele ano me deparei com a primeira noticia do assassinato de uma pessoa, o prefeito da cidade, Joaquim Baltazar tinha sido morto por pistoleiros. A cidade era Axixá (GO) , hoje pertencente ao Estado do Tocantins.

Aprendi que nem tudo é o que parece, que existem mentiras e decepções. Mas também aprendi que é importante manter a fé, mesmo quando tudo parece perdido. Afinal, mesmo que o Papai Noel não exista, ainda existia pessoas boas no mundo, como meu saudoso pai, dispostas a fazer o bem.

 

domingo, 3 de dezembro de 2023

Saudade, alimento da alma



ElsonMAraujo

Em memória da professora Maria Luíza Brandão

 Para quem gosta de escrever, e escreve com regularidade, alguns temas são recorrentes. Às vezes, por achar repetitivo, você até tenta empurrá-los mais para frente, mas, quando o escriba se rebela, vem a vingança, não me pergunte da parte de quem, e a escassez de inspiração aparece, dando origem a uma briga silenciosa.  É que, enquanto o tal {texto} que insiste em nascer não é liberado, a fila não anda e a inspiração para outro assunto, não flui. Não duvide!  Sou testemunha disso.  Acontece comigo sempre. Hoje, a insistência é da tal da saudade. 

Não sei se é por conta da maturidade, mas saudade tem sido um desses temas que chegam a mim com frequência. Acredito que não se trata de uma exclusividade, minha.  Aos sábados, quando o Jornal O Progresso, da cidade de Imperatriz, sudoeste do Maranhão, abre as cortinas do seu caderno de literatura, é comum encontrar um ou mais textos versando sobre saudade. O campeão, disparado, é o mestre das crônicas Clemente Viegas, talvez eu fique em terceiro, ou quem sabe, quarto lugar.

A professora Maria Luiza Brandão, de saudosa memória, a mãe do Carlos, também in memoriam, e do Francisco Brandão, e avó do jornalista Carlos Henrique, do Márcio e da Marcella, gostava de conversar comigo, muita antes de eu me aventurar nessa seara da literatura, sobre as crônicas que todos os sábados ou aos domingos ela lia em O Progresso, e no caderno de cultura do Jornal O Estado do Maranhão. Quando não destacava Sálvio Dino, que era cronista semanal de O Estado, comentava Viegas, há anos questionando o social nas páginas de O Progresso e nas ondas da Radio Mirante AM, de São Luís. E não tinha jeito, o que mais lhe chamava atenção era quando os dois cronistas destacavam o elemento saudade.

“A gente viaja nas histórias do Viegas. Ele nos conduz para dentro do que conta, fazendo a gente sentir saudade, sem saber nem do que.  O Doutor Sálvio, é outro. Gosto demais do que eles escrevem”, dizia a inteligente e antenada professora despertando ali, naquele instante, uma vontade danada de também começar a escrever crônicas.

Tenho saudade das conversas havidas com a professora, que era uma grande contadora de histórias.  Pelo menos uma vez por semana, ali na esquina da Simplicio com a Rua São Domingos, lá estava eu, a provocá-la sobre qualquer assunto. De política a literatura, de tudo ela tinha uma observação.   Com o tempo, e o fortalecimento dos laços fraternais, com a permissão do Carlos e do Francisco, passei a chamá-la de “mãe Maria Luíza”, seguida da frase “a moça mais bonita do quarteirão”. Percebi que ela gostava daquele mimo.  E foi assim, até ela adoecer, fechar o comércio, e partir para o Oriente Eterno.

Foi numa das conversas com Mãe Maria Luíza Brandão, que descobri a história do Frei Alberto Beretta, o padre/médico de Grajaú, que na década 1960 ganhou fama de santo pelas curas inimagináveis, para a época, de alguns doentes que se avistavam com ele.  A história me rendeu uma bela reportagem sobre o padre, que no interior do Maranhão teria sido, embora não reconhecido, o precursor do uso de células tronco na cura de determinadas doenças. O texto foi publicado em O Progresso, e no Jornal o Estado do Maranhão, ganhou as redes sociais e repercute até hoje.

Embora, em regra, o elemento saudade nos leve às lágrimas, não deixa de ser um tema leve. Digo até que é um dos principais alimentos para sagrar a imortalidade daqueles ou daquelas que partiram para outros planos.

A saudade hoje, é dela. Da professora Maria Luiza Brandão, a paraibana, da cidade de Esperança, que por anos exerceu o magistério em Imperatriz, e ajudou a formar centenas de bons cidadãos.

 

 

sábado, 14 de outubro de 2023

FRATERNOS

 

ElsonMAraújo

Terra, fogo, água e o ar são os elementos da Natureza. Todos eles importantes para a composição da vida na Terra. Mas, um é mais do que todos porque verdadeiramente conecta os seres vivos do Planeta Terra: O elemento ar. Já tinha pensado nisso?

Queiramos ou não nós, negros brancos, amarelos, índios, estamos todos irmanados pelo ar que respiramos. Não é preciso nem buscar alguma prova disso.  É só imaginar a superfície terrestre privada por alguns minutos desse elemento vital, o oxigênio. O espírito que em nós tem abrigo seria expulso sem demora é só sobraria a carcaça que desapareceria consumida pelo elemento terra.  “Do pó viemos ao pó voltaremos”

Assim, como não pode existir o fogo e água sem a sagrada partícula do oxigênio, a vida também não. A gente pode até aguentar alguns dias sem água, sem comida; mas sem respirar, essa possibilidade é igual a zero.

O oxigênio que cobre os continentes é o mesmo. O que muda, é a forma como ele é tratado.  Em algumas cidades do mundo a poluição do ar é uma realidade presente e letal; são milhões de partículas poluentes lançadas ao vento,  e  que já afeta a saúde igualmente  de milhões de pessoas e tudo isso provocado pela ação do próprio homem.

Dados da Organização Mundial de Saúde (OMS) apontam que 80% das cidades possuem um nível de poluição do ar acima do que é saudável para o ser humano. China, Índia, Irã e Arábia Saudita, já abrigam as cidades com o ar mais poluído do mundo. O ar não tem fronteira e quem não polui também acaba afetado. Triste, uma coisa dessa.

Como é difícil compreender essa situação:  se o ar (oxigênio) é o elemento vital para a vida na Terra por que dele os homens não cuidam?   O mundo, que já sofre pela escassez de água, não demorará muito estará chorando pela escassez generalizada de ar puro para respirar com o real risco da auto extinção

Os poetas, romancistas, ensaistas, compositores, enfim, quem gosta de escrever e pensar o mundo, costumo dizer, têm um quê de profeta. Em pare o mundo que eu quero descer, composta na década de 1970, o cantor e compositor  Silvio Brito,   como já prevendo essa grande tragédia ambiental  escreve,  e canta: 

 


“Pare o mundo

Que eu quero descer

Que eu não aguento mais

Escovar os dentes

Com a boca cheia de fumaça...”

 

Num outro trecho o autor se aprofunda:

 

“E pensar que a poluição

Contaminou até as lágrimas

E eu não consigo mais chorar

E ainda por cima...

Tem que pagar pra nascer

Tem que pagar pra viver

Tem que pagar pra morrer...

Tá tudo errado

Tá tudo errado

Desorientado segue o mundo

Enquanto eu vou

Ficando aqui parado”

É ou não é,  o retrato do mundo em que hoje vivemos?

O que não pode são os homens de bem e de boa vontade ficarem sentados naquela condição cantada por outro profeta musical brasileiro, o mestre Raul,  num trecho da sua Ouro de tolo:  Eu é que não me sento no trono de um apartamento Com a boca escancarada, cheia de dentes esperando a morte chegar. ..

 


sábado, 7 de outubro de 2023

A LATA DE FRITO



ElsonMAraujo

 

As memórias, prefiro as boas, tornam imortais nossos entes queridos.  Quando menos a gente espera, um cheiro, uma música, uma paisagem, uma viagem, uma música; pronto, lá vêm o retumbar das memórias, uma atrás da outra, a nos transportar ao doce jardim das lembranças. Lá, livremente, voltamos a reviver as vidas encarnadas, principalmente na infância e na adolescência. Feliz de quem consegue ancorar boas memórias. É que elas, às vezes, costumam funcionar como um bálsamo para nossas dores.

Carrego boas memórias dos meus pais, que há muito partiram para o Oriente Eterno. Uma ausência presente, como diria minha dileta confreira, da Academia Imperatrizense de Letras Liratelma Alves. Dia desses, ela falava sobre as ausências presentes, e as presenças ausentes. Achei aquilo fantástico, já que se aplica direitinho na minha relação com meus pais, ausências sempre presentes.

Há pelo menos duas semanas que sou visitado pelas memórias da minha adorável mãe, principalmente as vividas na infância. Éramos, unha e carne.   Não fui um menino fácil, mas ela nunca deixou de me proteger. Por diversas vezes, quando era ora de dormir, antes de adormecer, a escutava rezando bem baixinho pedindo a Deus que protegesse sempre a mim, e a meus irmãos.  Gostava demais daquilo, e dormia. Dormia feito um anjo.

Ontem, às 13h55, ainda sem saber com o que ocupar este espaço, preocupado porque falhei na semana passada e não querida falhar novamente, minha mãe veio ao meu socorro. Pegou nas minhas mãos e me transportou aos meus sete anos de idade. É, não consigo lembrar de coisas havidas há 20 minutos, mas consigo lembrar bem,  de muitos fatos da infância. E assim, aconteceu.

Morávamos numa pequena cidade. Não havia água encanada, e só os mais abastados tinham poço no quintal, o que não era nosso caso.  Para beber e lavar louça, era até fácil. A água vinha do poço da casa vizinha. Agora, para lavar roupa, a coisa complicava. Exigia uma certa logística, que começava um dia antes, quando minha mãe juntava a roupa suja da semana.  Não havia sabão em pó, nem desses bonitinhos que a gente compra na quitanda. O sabão, quase sempre era de fato de porco e potassa.

Cuidadosamente minha mãe ia separando a roupa suja para formar uma imensa trouxa. Feito isso, vinha a parte da qual mais gostava: o frito de galinha caipira, temperada com alho, sal, pimenta do reino, e o cheiro verde (cebolinha, coentro) tirado de um canteiro, no fundo do quintal.  Nunca faltou uma penosa no quintal lá de casa.  Depois de pronta, a iguaria era misturada numa farinha (puba) e posta numa lata, e tampada. Só seria aberta, ao meio dia, do dia seguinte, no intervalo da lavagem de roupa. Dormia, pensando no frito.

Não me pergunte como minha adorável mãe conseguia andar, cerca de um quilômetro, com uma trouxa de roupa na cabeça, sem nenhuma ameaça de queda, levar debaixo do braço uma lata de frito, ficar de olho no peralta do Elson Araújo que lhe acompanhava nessa aventura, e ainda ficar atenta na vereda que conduziria até a beira do brejo, numa propriedade rural que o dono abria para as donas de casa lavar roupa.  Fazia tudo isso e ainda cantava. Confesso, que naquela idade, só pensava mesmo era no frito da hora do almoço.

Enquanto minha mãe “batia a roupa”, eu passava o tempo mordendo manga, e chupando caju. Era tanta fartura que deixava tudo pela metade. Os dentes, ainda de leite, ficavam dormentes, mas eu nem ligava. Entre uma mordida e outra, o pensamento voava até a lata de frito.

No pingo do meio dia, começava a ouvir de longe minha mãe me chamar.  Ela já havia terminado a lavagem e punha a roupa espalhada pelas ramagens para quarar (procedimento que consiste em deixar as peças ensaboadas expostas ao sol por um longo período).

 A palavra mágica era “ Elsonnnn, vem almoçarrrr”. Largava tudo e lá ia eu correndo, descalço, sem medo de ferir os pés ou levar uma queda. Chegava o momento da abertura da lata de frito.


Minha mãe, parecia que sabia do prazer que tinha de vê-la abrir a lata de frito e subir aquele cheiro, curtido de um dia para o outro, que só os iniciados são capazes de compreender. E era assim, ela só abria a lata quando eu chegava.

Com o vestido de chita molhado, colado ao corpo, minha mãe sentada na tábua de lavar roupa, me chamava para perto dela, e ali, só eu e ela, debaixo do sol quente, sob o testemunho do canto do bem-te-vi, das pipiras, do anum, e do barulho da água batendo nas pedras, ela, ritualisticamente, abria a lata de frito.

Para se juntar àquele saboroso banquete, um punhado de peixinhos cercava a tábua de lavar roupas para também se deliciar com punhados de farofa que caiam no brejo a cada mordida nos pedaços do frito da caipira. E eu, ali, hipnotizado, já pensando na próxima lavagem de roupa.

Gratidão, querida mãe.

 

 

 

sábado, 5 de agosto de 2023

Agosto, o mês dos 200 anos do nascimento do poeta Gonçalves Dias

 



ElsonMAraujo

 

Em 1823, na vigência do seu terceiro século, o Brasil passava por muitas transformações. No ano anterior, Dom Pedro I deu o grito da independência, e o País ainda se acostumava com aquilo. Na verdade, há indícios claros de que passados tantos anos, o país ainda não se acostumou, em definitivo, com essa tal liberdade. 

Em maio daquele ano, uma Assembleia Constituinte se reunia, no Rio de Janeiro, para elaborar o que seria a primeira Constituição Federal do Brasil. Constituição essa que limitava os poderes de D. Pedro I.  Crise. O governo mandou fechar a Assembleia e prender os deputados.

No Piauí, no dia 13 de março, acontecia a sangrenta Batalha do Jenipapo, onde tropas portuguesas foram expulsas pelos brasileiros. O vereador, por Imperatriz, professor/historiador Carlos Hermes, tem uma importante obra sobre esse evento.

No dia dois de julho, tropas portuguesas se renderam aos brasileiros da Bahia. No dia 15 de agosto era assinado o documento de adesão do Pará à independência brasileira, anexando a província do Grão-Pará, ao Brasil.

No Maranhão, a economia era dominada por empresas colonizadoras francesas e holandesas. Ao mesmo tempo, era intensificada a criação de cidades e vilas e as instalações de instituições burocráticas.

Nesse cotejo, em 1820, Elias Ferreira Barros, vindo de Belém, se fixou no local onde em 1823 foi fundada a cidade de Carolina, que até os anos 1960 era o epicentro político/ cultural desse lado do Maranhão.

No resto do mundo,  em 23 de fevereiro, ocorreu em Portugal uma rebelião contra-revolucionária do general Conde de Amarante e de outros oficiais afastados do poder em finais de 1820.   Em 7 de abril, a França invadiu a Espanha com o objetivo de repor o regime absolutista. 

Em 28 de setembro, iniciou-se o pontificado do Papa Leão XII, que duraria apenas 6 anos e ficaria marcado pela forte oposição à Maçonaria e à Carbonária. Essa última, uma sociedade secreta   e revolucionária que atuou na Itália, França, Portugal, Espanha, Brasil e Uruguai nos séculos XIX e XX

Foi no meio desse turbilhão de acontecimentos nacionais e internacionais que no dia, 10 de agosto, de 1823, nas matas de Jatobá, a 14 léguas da sede do município de Caxias (MA) que nascia um dos maiores vultos da literatura brasileira Antonio Gonçalves Dias, patrono da cadeira número 15 da Academia Brasileira de Letras, alvo de homenagens, em todo Brasil, desde o início deste 2023, quando se comemora o bicentenário de seu nascimento.

A Academia Imperatrizense de Letras (AIL) não ficará de fora das comemorações dos 200 anos do poeta e já prepara uma programação especial, para o mês de setembro.

É da AIL, o maior estudioso da vida e obra de Gonçalves Dias, no Maranhão, talvez no Brasil, Edmilson Sanches, o que já lhe renderam pelo menos três obras, escritas e publicadas, além de diversos artigos e inúmeras palestras.   Não por acaso, Sanches é conterrâneo do poeta,  e por muito tempo morou pertinho de onde ele nasceu. Coincidência ou não o escritor caxiense/imperatrizense, assim como Gonçalves Dias, é um reconhecido homem das letras. Um apaixonado pela literatura e as artes.

Gonçalves Dias, conforme nosso confrade Edmilson Sanches, viveu no endereço onde nasceu até os 14 anos, quando viajou para estudar em Portugal. Outros estudiosos dizem que essa viagem teria ocorrido aos 15 anos, porque antes ele teria estudado em um colégio de orientação Jesuíta, em São Luís. Essa passagem não é reconhecida por estudiosos como Sanches, que a refuta de forma veemente e afirma que essa passagem por São Luís, não ocorreu. De Caxias, foi direto para Portugal.

Foi na capital lusitana, durante seus anos de estudos, que o maranhense teria tido contato com as ideias do romantismo europeu, o que segundo seus biógrafos influenciaram toda sua obra.  Não, é por acaso, portanto, que ele é laureado como um dos maiores poetas do romantismo brasileiro, e principal representante do indianismo na literatura nacional.

Parece até maldição dos gênios. O poeta viveu pouco, mas o suficiente para se imortalizar no panteão dos grandes nomes da Literatura Brasileira, sendo celebrado como o grande poeta indianista da primeira geração romântica e um dos melhores poetas líricos da literatura brasileira.

Em 41 anos de vida entremeou caminhada terrena como advogado, professor, poeta, etnógrafo, teatrólogo e jornalista. Se hoje, todo esse protagonismo ainda é motivo de espanto, imagine naquela época. Uma personalidade que merece o respeito nacional e todas as homenagens que forem necessárias. Um homem além do seu tempo.

Como é possível depreender da trajetória de Gonçalves Dias, os ares do velho mundo ampliaram a visão do maranhense. Depois de formado e de volta ao Estado, as terras maranhenses ficaram pequenas para a luz literária do poeta e ele muda-se para o Rio de Janeiro, onde o Brasil acontecia. Na cabeça, a clara intenção de se integrar ao meio literário. 

Imagina-se que naquela época, não era fácil, furar a bolha da elite literária, mas como talento é tal qual um insistente pingo d´água, somado a isso a inteligência, impar, do maranhense, em 1847, com Primeiros Cantos, conseguiu sucesso e reconhecimento público.

 

Uma, entre muitas peculiaridades da trajetória do poeta descoberta por Sanches era seu pendor pelo aprendizado de línguas. Além do Português falava fluente, francês, alemão, inglês, latim e outros idiomas.  De acordo, com Edmilson Sanches ele chegou a dominar, com o português, pelo menos oitos idiomas.

 

Na análise dos estudiosos da poesia de Gonçalves Dias, essa   fora escrita  buscando sempre a perfeição rítmica e formal, com poemas marcados pela presença de rima, musicalidade e métrica  o que denota sua excelente formação acadêmica/escolar

Naturalmente humanista, ele também retratou positivamente os negros, exaltou as belezas naturais do Brasil. Além disso, ele abordou a religiosidade de caráter cristão e o sentimentalismo em suas poesias 

 

Sua poesia lírica também é marcada pela idealização do amor e da mulher, características típicas do romantismo.

“Canção do Exílio” é um dos poemas mais famosos de Gonçalves Dias. Trata-se de um poema romântico escrito em julho de 1843, quando ainda estudava Direito em Coimbra, Portugal. É considerado um poema lírico e foi publicado na antologia “Primeiros cantos”, em 1846 

 

O poema expressa a saudade da terra natal, o ufanismo e a valorização da natureza. A cor local, expressa pelo cenário da natureza, constrói o Brasil como um lugar paradisíaco sobre o qual se sente nostalgia e desejo de retorno: “Não permita Deus que eu morra / Sem que eu volte para lá” .

 

A Obra de Gonçalves Dias , entre outras análises, é importante para a literatura brasileira porque ele foi um dos primeiros a retratar a figura do índio de forma idealizada e a enaltecer a cultura e a natureza brasileiras.

Ah, antes que eu esqueça, Gonçalves Dias ainda lutou pela abolição da escravatura e pela defesa dos direitos dos povos indígenas. Infelizmente não viveu o suficiente para assistir a assinatura, em maio de 1888, da Lei Aurea. Sua vida foi tragicamente interrompida em 1864, em um naufrágio durante uma viagem de vapor para o Maranhão. Dias foi dado como desaparecido e presumivelmente falecido aos 41 anos de idade.

 

Outras obras do poeta:

 

 “Primeiros Cantos” (1846), “Leonor de Mendonça” (1847), “Segundos Cantos” (1848), “Últimos Cantos” (1851) e “I-Juca-Pirama” (1851) 

 

quinta-feira, 27 de julho de 2023

O PESCADOR DE URUBU


ElsonMAraujo

 

Ariano Suassuna dizia que toda cidade do sertão tem um doido, um bêbado e um mentiroso. personagens imortalizadas no conjunto da sua obra. Essas personalidades são facilmente identificadas pelo nome, e por vezes, por suas proezas. Não deixam de ser figuras que guardam um certo tipo de importância, comumente reconhecidas só depois que morrem. Enterros desses populares, nas pequenas cidades, costumam arrastar multidões.  Terminam, de alguma maneira, imortalizados pela oralidade popular.

Quem não tem uma (h) estória de doido, mentiroso e bêbado para contar? Ou mesmo um personagem para lembrar nas rodadas de conversa?

Na cidade, basta uma pequena provocação com representantes dos troncos familiares mais antigos para o surgimento de um desfile dessas figuraças que marcaram época, num tempo de uma imperatriz mais provinciana. O saudoso cantor e compositor Selim Galhães, que morreu em 2021, tinha paixão por essas personalidades. Via neles poesia e arte.   Nas nossas conversas sobre as coisas da cidade lembrava sempre do Mujuba. Um “sábio”, segundo ele, respeitado por todos, que morava num barreiro, ali próximo do prédio do INSS, e com quem, na meninice gostava de “trocar ideias”

Mujuba está imortalizado numa composição de um outro artista maranhense/imperatrizense/carolinense Erasmo Dibbel. Em “Minha cidade” o cantor , além de Mujuba, lembra o Elias do Boi, outro personagem da cidade nesse linha de importância.

 

{...Minha cidade engatinha

E mujuba de palavras sábias sofre

Vêde elias perdido num boi tão iô-iô...}

Ontem , ao conversar com o jornalista Colo Filho, um apaixonado pelas coisas da cidade, ele lembrava de outras dessas figuraças do cotidiano da Imperatriz de antigamente. Se ele lembrou, é porque nunca morreram. O índio doido, que surgiu do nada e assustava a todos com um pedaço de pau, na mão; mas que nunca ofendeu ninguém, o Pedro Mentira, o Guriatã, que já amanhecia o dia embriagado, e o cego, que enlouquecia quando a molecada chegava perto dele e imitava o mugido de um boi. Na prosa, acabei por lembrar do Josias, que vestido de mulher, subia e descia a Coronel Manoel Bandeira falando sozinho. Carregava sempre um bastão com o qual espantava a meninada, entre as quais eu, que o atazanava.  

Quem pensa que o Suassuna deixou de ter razão, se engana. Em Imperatriz, que já tem ares de metrópole a evolução deixou mais difícil de identificar essas celebridades. Mas elas continuam presente nas pequenas cidades. Nesta semana encontrei a história de um “pescador de urubu”. Acredito que ainda tenho um restinho de espaço na página para contar a história.

Num povoado, no interior de uma cidade sul maranhense, uma esposa desses bêbados de todos os dias, cansada da rotina, passou a procurar uma fórmula para obrigar o companheiro a abandonar a maldita. Foi aí, que ouviu de uma velha índia que o fel do urubu, capturado vivo,  misturado à cachaça resolveria o problema. A mulher resolveu apostar tudo nessa possibilidade. O problema era pegar a ave para tirar o bendito fel.

Como se sabe, o fel é como popularmente é conhecida a bile, fluido produzido pelo fígado. Consta que amarga para diabo, mas é essencial para a digestão de gordura, no órgão de origem.

A mulher não conseguia se enxergar capturando o urubu. Foi aí que teve a ideia de contratar alguém para a tarefa. A escolha recaiu em outro frequentador do mesmo boteco do marido, que já não batia bem da cabeça, mas que ainda seguia alguns comandos.  Ela prometeu uma camisa nova se ele lhe trouxesse um urubu. Tarefa aceita.

O tarefeiro passou a fazer tocaia no abatedouro da moita do povoado, palco dos urubus da cidade. Tentou uma, duas, três vezes, apanhar convencionalmente  o bicho, mas não obteve êxito. Foi aí, que num momento de iluminação teve a brilhante ideia de utilizar um anzol para pegar a arisca ave. Correu até o quintal de um pescador do lugar e furtou a peça inteira de um anzol. Depois, passou num açougue, onde pegou uns pedaços de sebo para usar como isca e correu de volta ao abatedouro.

A captura do bicho, que não foi fácil, só foi feita na quinta tentativa. Ao sentir a fisgada o bicho voo e lá se vai o tarefeiro a fazer força para trazê-lo para o chão. Chegou a correr, à vista e risos de todos, quase uns 500 metros até o urubu cansar e se entregar. Missão cumprida. Entregou a encomenda e foi recompensado com a prometida camisa.

O segredo de tudo era ninguém saber o que seria feito com ave. A mulher, naquela ocasião, não disse nada para ninguém. Houve até quem pensasse que ela comeria o animal. Manteve segredo, até o fim. O urubu foi sacrificado e dele extraído o fel, ardilosamente colocado numa meiota de cachaça maranhense que o bêbado mais famoso do povoado havia deixado do lado da rede, onde dormia.

Um sobrinho do bebum, que muito mais tarde soube da tentativa de livramento do tio  do vício da pinga, me contou que a “mandiga” não deu muito certo, mas algo diferente começou a acontecer, desde então: ele não deixou de beber, mas  toda vez que  tomava a primeira dose da manhã  era  certeza de passar o dia inteiro vomitando.  

quarta-feira, 5 de julho de 2023

ESSÊNCIA DE NÓS


(ElsonMAraujo)

Minúsculas,

Maiúsculas.

Tudo que brota

da Mãe Terra,

Carrega consigo

Partículas de

todos nós.

Nos locais mais

Inóspitos a vida

se faz presente,

chamando a

Atenção dos

Olhos da

gente.

QUANDO DEIXEI DE ACREDITAR EM PAPAI NOEL

    ElsonMAraújo Neste dezembro de 2023, mais precisamente no próximo dia 25, completarão-se 49 anos desde que deixei de acreditar em Papa...